"Filha da ciência e mãe da caridade! Fossem as sociedades civis como tu, ó, santa Maçonaria, e os povos viveriam eternamente numa idade de ouro. Satanás não teria mais o que fazer na terra, e Deus teria em cada homem um eleito."
(Cônego Januário da Cunha Barbosa)
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9 de julho de 2020


Este é um dos símbolos usados pela nossa Ordem que mais me fascina, apesar de muito pouco discutido em reuniões na maioria de nossas Lojas.

Segundo Harry Carr, o “ponto” é ético e implica o fundamento especifico sobre o qual o maçom deve basear seu padrão de conduta e, enquanto aderir a este, ele não pode errar, remetendo-nos imediatamente à First Charge do dr. Anderson, de 1723: “...serem homens Bons e Fiéis, ou Homens de Honra e Honestidade”.

Na maçonaria teísta ele simboliza, primordialmente, o campo de ação traçado para nós pelo compasso do Grande Arquiteto do Universo, lembrando que, aquele que cumprindo os desígnios do Criador, mantiver-se circunscritos a este circulo, jamais errará neste plano material.

Colin Dyer em sua obra “O Simbolismo na Maçonaria diz”: A escada de Jacó se apóia no Volume das Sagradas Escrituras que, por sua vez, estava sobre um dispositivo muitas vezes sob a forma de um pedestal, dotado de duas linhas paralelas com um círculo entre elas que as tocavam e tocava o Volume. O centro do círculo era acentuado.

As duas linhas paralelas representavam as duas Grandes Paralelas da Maçonaria: São João Batista e São João Evangelista. Estes Santos eram os padroeiros dos maçons e as festividades semestrais eram realizadas nos seus dias comemorativos: 24 de junho e 27 de dezembro, convenientemente separados por um intervalo de seis meses.

Preston aborda este ponto em sua preleção e diz: Em tempos modernos, estas duas paralelas eram usadas para exemplificar os dois São João – o Batista e o Evangelista – como patronos da Ordem, cujas festividades são celebradas perto dos solstícios, que acontecem quando o Sol, em seu trajeto zodiacal, toca estas duas paralelas.

Antes que os graus se estabelecessem em seu atual simbolismo, este ponto no interior de um círculo era um símbolo incorporado a todas as representações pictóricas relacionadas com a maçonaria em geral e foi explicada nas Preleções do Primeiro Grau juntamente com outros símbolos afins. Ele aparece em nossos dias em algumas Tábuas de Delinear.

No livro Master Key de John Browne de 1802, são formuladas algumas perguntas  e respostas  na Primeira Preleção que abordam a posição do ponto no interior de um círculo:

A quem dedicamos a nossa Loja, já ornamentada, mobiliada e aparelhada?
- Ao rei Salomão.
Por que ao rei Salomão?
- Por ter sido ele o primeiro Grão Mestre que introduziu a Maçonaria em sua devida forma e, sob cujo patrocínio real muitos dos nossos mistérios receberam sua primeira sansão.
Como o rei Salomão era um hebreu muito tempo antes da era cristã, a quem ora dedicamos nossa Loja?
- A são João Batista
Por que São João Batista?
- Ele foi o precursor ou predecessor de nosso Salvador, que pregava o arrependimento entre as multidões e traçou a primeira linha do Evangelho por meio de Cristo.
Tinha ele algum igual?
- Sim, tinha: São João Evangelista.
Em que eram eles iguais?
- Este, tendo chegado após o outro, concluiu com zelo o que o outro iniciara por meio do seu Aprendizado e traçou uma linha paralela.
Qual o primeiro ponto da Maçonaria?
- O joelho esquerdo nu e dobrado.
No que consiste o primeiro ponto?
- Na posição ajoelhada me foi ensinado adorar meu criador e, sobre o meu joelho esquerdo nu e dobrado eu fui Iniciado na Maçonaria.
Existe algum ponto principal?
 - Sim, o de fazermos um ao outro felizes e transmitir aquela felicidade a outrem.
Existe algum ponto central?
- Sim, um ponto no interior de um círculo, do qual o Mestre e os Irmãos não podem materialmente errar.
Explicai este ponto no interior de um círculo.
- Em todas as Lojas regulares de franco-maçons existe um ponto no interior de um círculo, ao redor do qual o Mestre e os Irmãos não podem materialmente errar. O círculo é limitado ao Norte e ao Sul, por duas linhas perpendiculares paralelas: a do Norte representa São João Batista, e a do Sul simboliza São João Evangelista. Nos pontos de cima destas linhas e no perímetro do circulo, está colocada a Bíblia Sagrada, sobre a qual se apóia a Escada de Jacó, que alcança as nuvens do Céu. Aí também estão contidos as Ordens e os Preceitos de um Ser infalível, Onipotente e Onisciente, de forma que enquanto estivermos em seu interior e obedientes a Ele, como foram São João Batista e São João Evangelista, seremos levados a Ele e não nos decepcionaremos e nem O frustraremos.
Portanto, ao nos mantermos assim circunscritos será impossível que venhamos a errar materialmente.

Temos aqui uma bela declaração de muito daquilo sobre o que a nossa Maçonaria foi fundada há muitos e muitos anos, embora muitos possam reverter as qualidades dos dois santos mencionados nesse trecho. É obvio que, tendo surgido num país cristão, a sua base religiosa, que transparece de maneira tão forte nesse trecho, esteja sob o enfoque da fé cristã.

Quando por volta de 1816, a Franco-Maçonaria se tornou não- sectária, foi feita uma tentativa de se alterar todas e quaisquer referências de conotação especificamente cristã. Essa passagem, em particular, foi consideravelmente modificada. As duas grandes paralelas se tornaram representativas de Moisés e do rei Salomão, sendo que toda essa passagem, em resultado, teve de ser bastante abreviada. A Bíblia se tornou o “Volume das Sagradas Escrituras”, não apenas nesta passagem, mas em todo o ritual.

Quando as preleções foram ponderadas, o Grão-Mestre então em exercício, o duque de Sussex, decretou que elas deveriam se basear no antigo sistema de tal como constam no Master Key de Browne.

Um dos livros de resumos das preleções de William Preston pertence ao Rev. L. D. H. Cockburne, que era o Grande Capelão entre 1817 e 1826 e membro da Lodge of Antiquity, a Loja de Preston, entre 1819 e 1822. Neste livro está inscrito um pequeno ensaio de uma sessão de uma preleção que trata da dedicação do Templo, no qual lemos:
Como é denominada nas Lojas esta dedicação?
- Por um ponto dentro de um Círculo, com dois pilares paralelos descritos como tangentes àquele círculo.
Por que?
- Como simbolizamos o Centro do Universo, o Divino Arquiteto, cuja bondade nós representamos no Sol, e pelos benefícios que desfrutamos de sua grandiosa luminosidade.
O que representa o círculo?
- O zodíaco está nele representado tal como o movimento descrito pelo sistema Solar para assinalar a limitada natureza das mais maravilhosas criaturas que contemplamos.
O que representam as paralelas?
- Os Trópicos, para nos lembrar do Ser Supremo que estabeleceu limites a todas as criaturas e delimitou o sistema planetário.

Estas são algumas das simbologias das Paralelas e o Ponto no Centro do Círculo: Ética, Desígnios de Deus, São João Batista e São João Evangelista, Moisés e Salomão, Os dois Solstícios e o Sol, O zodíaco e os Trópicos de Câncer e Capricórnio... Porém o assunto está longe de ser esgotado neste simples relato. É por isso que este símbolo tanto me fascina.

Francisco de ASSIS de Góis

Bibliografia:
O Simbolismo na Maçonaria – Colin Dyer
A História da Franco-Maçonaria – Jean Ferré
O Oficio do Maçom – Harry Carr

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